Antônio Carlos Barbosa: experiência e amor pelo basquete a serviço de Itu
Já classificado para os playoffs e dono de uma das melhores campanhas da Divisão Especial Feminina do Campeonato Paulista, o Ituano é um dos candidatos ao título desta temporada. Uma das virtudes da equipe é o entrosamento entre as atletas, que atuam juntas desde o Campeonato Paulista passado. O entrosamento permite que as jogadoras conheçam bem umas às outras e tenham facilidade para colocar em prática com muita eficiência o esquema tático proposto pela comissão técnica. O resultado disso é um time com forte equilíbrio entre defesa e ataque, como mostram as estatísticas da competição.
Outro diferencial do Ituano é contar ao lado da quadra com um comandante que conhece tudo sobre basquetebol e cujo talento e histórico de conquistas foram reconhecidos pela FIBA: Antônio Carlos Barbosa. Aos 79 anos, ele e o saudoso Togo Renan Soares, o Kanela, são os únicos técnicos de basquetebol brasileiros no Hall da Fama da entidade máxima da modalidade.
Em entrevista exclusiva ao site oficial da Federação Paulista de Basketball, Barbosa fala sobre sua carreira bem-sucedida, destaca os motivos para a boa campanha do Ituano e reforça a vontade de ser campeão paulista pela cidade de Itu. Confira abaixo o bate-papo completo com esse ícone do nosso basquete.
1) O seu currículo é invejável e você é uma das grandes figuras do basquete mundial. Não à toa está no Hall da Fama da FIBA por tudo o que deu para o basquetebol. O que o estimula a continuar atuando como técnico, profissão que você exerce desde os 19 anos de idade?
Barbosa: Primeiro gostaria de dizer que essa homenagem do Hall da Fama é algo que para mim era impensável. Sou o único técnico de basquetebol brasileiro vivo que está no Hall da Fama, já que o Kanela (Togo Renan Soares, o “Kanela”) já é falecido.
Acho que a vida é feita de desafios. No momento em que você não tem mais nada a desafiar na vida e não tem motivação para viver, é hora de ficar em casa e esperar a hora da morte. Então, o desafio de ser cada vez melhor me impulsiona a viver com alegria e motivação. Tentar fazer o que eu não consegui ontem e, principalmente, trabalhar para as meninas do Ituano. Para que elas cresçam, melhorem, alcancem cada vez mais espaço em nível mundial de basquetebol.
2) Você tem dois títulos do Campeonato Paulista Adulto, o primeiro com Piracibaca, em 1994 e o outro com Campinas, em 1996. Nas categorias de base foram inúmeras conquistas por Bauru. Chegou a vez de ser campeão por Itu?
Barbosa: Pretendo ser campeão por Itu. No Paulista Adulto nós batemos na trave algumas vezes e hoje estamos brigando bem no Campeonato. Temos condições de lutar pelo título em igualdade de condições desta vez. Estamos com um grupo e um time no nível das outras grandes equipes e ter esse nível é o primeiro pressuposto para você tentar um título.
O sucesso na categoria adulta tem muito a ver com investimentos. Se você tem um investimento no nível das demais, você compete com elas. Se você estiver abaixo, dificilmente reverte isso, por mais competente que seja o trabalho realizado.
3) Como você analisa a evolução do Ituano ao longo do Campeonato? No primeiro turno foram 7 vitórias e apenas 1 derrota. No Realinhamento já são duas vitórias. O quanto o jogo do Ituano ainda pode crescer?
Barbosa: Em um campeonato com muitos jogos seguidos, como é o Paulista, você tem que contar também com a sorte de as atletas não terem problemas físicos. E se no ano passado nós tivemos vários problemas, em 2024 nós ainda não tivemos. A Paty (ala) voltou de lesão e o time ficou bem. É importante destacar também que desde o ano passado o Ituano passou a adotar uma política de fazer times anuais e não equipes somente para competições específicas. Essa é uma vantagem de equipes como Santo André e Araraquara, que mantêm o mesmo time sempre. Terminaram a LBF (Liga de Basquete Feminino) e mantiveram o mesmo time para o Paulista…
O basquete é um jogo coletivo e com uma troca constante de atletas, você não consegue implementar uma filosofia de jogo. Não dá tempo para as atletas assimilarem… Então, uma grande vantagem que temos esse ano é ter uma equipe com um contrato anual que está jogando junto desde o Paulista do ano passado. Além disso, temos jogadoras com alto nível técnico e com esse grupo temos condições de crescer cada vez mais.
4) Sua equipe lidera as estatísticas do Paulista em alguns critérios: pontos (81,1), rebotes (49,8), rebotes defensivos (36,6) e assistências por jogo (21,3). Isso demonstra bom equilíbrio ofensivo e defensivo. A que se deve esse bom desempenho?
Barbosa: Faltou um outro critério técnico nessa pergunta (risos). Também estamos liderando na média de cestas de três pontos por partida. E nos dois pontos estamos perdendo por décimos. Isso realmente demonstra equilíbrio ofensivo e defensivo. No que diz respeito às assistências, já é uma constante a liderança da Joice e consequentemente do time em assistências na competição. É realmente esse equilíbrio que faz o Ituano ser uma boa equipe. Isso tudo é consequência não só do trabalho técnico individual e tático, mas também do ajuste de colocar cada jogadora em seu devido lugar. Essa é minha filosofia para o basquete: cada jogadora com sua função específica dentro de uma determinada movimentação.
5) Seu histórico trabalhando com jovens atletas é admirável. Qual a visão do Ituano para a revelação de novos talentos?
Barbosa: Vai demorar um pouco para isso acontecer. Nós já conseguimos que essa equipe adulta fosse um espelho e motivação para jovens iniciarem no basquete. Estamos com equipes sub-12, sub-13 e sub-15, todas com meninas da cidade de Itu formadas em escolinhas. Claro que uma menina dessas se revelar como grande atleta demora um pouco. Mas tem algumas meninas nas categorias de base que você percebe que têm um certo diferencial e isso mostra que tendo oportunidade para elas virem para quadra, os talentos aparecem.