A pivô Kelly Muller, do Ituano, conta a mania de colecionar pares de sapatos


Com quantas cestas e rebotes se faz uma carreira vitoriosa de 25 anos de alguém que tem no currículo um bronze olímpico, o de Sydney-2000? Difícil dizer? E quantos piques ou passadas de uma ponta à outra de uma quadra? Ainda mais difícil? E no caso da pivô Kelly, do Ituano, é praticamente impossível calcular quantos pares de sapatos integram sua  já alentada coleção de calçados, outra de suas paixões.

“Acho que, somando o que tenho aqui em Itú e na minha casa, em São Paulo, são uns 200 pares de sapatos, fora os tênis. São sapatos de todas as cores, estilos e modelos”, conta a atleta, rindo.

Vaidosa, a ponto de se maquiar cuidadosamente antes de cada partida, seja por clube ou seleção, no Brasil ou fora do país, Kelly chama a atenção do alto de seu 1,92m. Seus gostos por roupas e calçados se sofisticaram ainda mais depois de ter atuado na Europa e nos Estados Unidos.

“Eu sempre gostei de tudo que é arte. Quando joguei na Europa (em países como França, Itália e Espanha), ficava admirando esculturas, moda e sapatos. Minha mãe, coitada, é que cuida da maior parte dos calçados pra mim lá em São Paulo. Mas tenho muitos em Itú também. O que tenho de pares de sapatos daria pra comprar um carro”, calcula a atleta, que costuma combinar uma mesma bolsa com 10 ou 15 pares de sapatos diferentes.

Sapatos, a pivô só pode usar mesmo quando não está treinando, jogando ou viajando. Nesses casos, recorre ao tênis. Mas isso não quer dizer que não haja um toque especial no uso de cada calçado esportivo:

“Para jogar, troco um par de tênis novo a cada 3 meses. Quando o jogo é em casa, uso tênis brancos ou azuis, e fora de casa, pretos, azuis ou coloridos. Vou trocando. Tênis são meus instrumentos de trabalho e têm de estar confortáveis, mesmo que não sejam novos.”

Fora das quadras, Kelly ainda tem o projeto pessoal de concluir um curso universitário, após ter tentado educação física, direito, recursos humanos e arquitetura, sua favorita.

A trajetória nas quadras, iniciada há 25 anos no extinto Leite Moça/Sorocaba, levou-a a defender equipes também em outros países, como Estados Unidos (WNBA), França, Itália, Espanha, Letônia, Turquia, Colômbia e Equador, o mais recente há uns 4 meses antes de acertar com o Ituano.

Bem jovem, Kelly chegou à equipe nacional adulta em 1997, com 17 para 18 anos. Pela seleção, foi aos Jogos Olímpicos de Sydney-2000, em que participou da conquista da mais recente medalha olímpica do basquete verde-amarelo, a de bronze; Atenas-2004, Pequim-2008 e Rio-2016 (ficou de fora de Londres-2012); além dos Jogos Pan-Americanos de Winnipeg-1999, Santo Domingo-2003, Rio-2007 e Toronto-2015 (ficou de fora de Guadalajara-2011). Nesta competição, foi bronze em 2003 e prata em 2007. Por clubes, foi campeã brasileira pelo Vasco, em 2001, além de ter sido campeã nacional na Letônia e no Equador.

Atualmente, tanto no masculino quanto no feminino, ela é a única atleta de basquete medalhista olímpica em atividade no país.

“Fico lisonjeada. Mas também preocupada por isso, porque poderia ter havido mais investimentos, o que nos levaria a termos mais medalhistas no basquete, no feminino e no masculino. No feminino, houve muitas trocas de gestão e de treinadores, e hoje vejo o Brasil em atraso diante da Argentina e de outras forças sul-americanas. O Brasil se estagnou. Parou de crescer”, diz a experiente pivô, que a  menos de um ano dos Jogos Pan-Americanos de Lima-2019 e a dois da Olimpíada de Tóquio-2020, ainda quer, sim, dar novas passadas vestindo o uniforme da seleção brasileira.